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MARÃIWATSÉDÉ E TAPIRAPÉ MAJTYRI : A LUTA PELA PRESERVAÇÃO DOS SEUS TERRITÓRIOS E DE SUAS HISTÓRIAS

“Lembro-me de ser levado da minha terra ainda criança com meus pais e ver muitos do meu povo morrerem lutando por ela”, comenta um dos anciões da aldeia Marãiwatsédé.


Por: Arimara Thaís e Mylena Caitano


Foto: Mylena Caitano


Em recente visita aos povos indígenas da região do baixo Araguaia, conversamos com representantes das aldeias Marãiwatsédé e Tapirapé Majtyri sobre a importância do acesso às histórias dos povos originários do Brasil e a luta pela preservação do seu território e sua cultura.


O Norte Araguaia é composto por 14 municípios, todos declarados como territórios indígenas. Em 1920, um desmonte começou a ser feito, quando grandes empresários receberam incentivos do governo Vargas, no que foi denominado Marcha para o Oeste, cujo intuito era que houvesse uma interação econômica entre as regiões Norte e Centro-Oeste. A realidade é que os territórios foram explorados pelos empresários e as ações agropecuárias produziram impactos socioeconômicos e ambientais nos territórios indígenas e povos tradicionais da região, sendo os Marãiwatsédé os primeiros povos a serem afetados por esse projeto.


Aldeia Marãiwatsédé


No dia 19 de maio, realizamos a primeira parada na aldeia de Marãiwatsédé. O contato inicial foi feito através do professor Dr. Magno Silvestri e a cacique Carolina Rewaptu, sendo ela a primeira líder indígena mulher na aldeia a ser consagrada a cacique e que também nos ajudou traduzindo as histórias relatadas.


Assim que nos apresentamos e nos instalamos, um dos anciões nos contou lembranças de sua infância, quando foi retirado com seus pais do seu território pelo avião da Força Aérea Brasileira em 1966. Ele ainda relatou que foram entregues aos fazendeiros, levando o seu povo para uma aldeia perto de Barra do Garças, no município de General Carneiro.


A luta de retomada para seu território de origem durou em torno de 46 anos. Para aqueles que almejavam retornar e reconquistar o território original ao qual os pertenciam, a saída seria lutar incansavelmente, não só contra os agricultores que invadiram o território, mas contra o próprio Governo, que não reconhecia aquela região como um território identitário. Por isso, a retomada ficou caracterizada por muitos conflitos.



Aldeia de Tapirapé - Majtyri


Foto: Mylena Caitano

Recepção calorosa das crianças de Majtyri




No dia 26 de maio, o destino foi a Aldeia Tapirapé. Almoçamos em Santa Terezinha e lá tivemos o primeiro contato com o novo cacique Amanantô - Arauní, de 27 anos, formado em linguagens pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e mestrando em linguagem pela Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) em Barra dos Bugres.


Foto: Mylena Caitano


Quadro de matéria lecionada para as crianças na aldeia



O Cacique nos levou até a escola da aldeia, onde tivemos uma conversa sobre o funcionamento das escolas. Arauní nos contou que o Governo planejou fechar a única escola ativa na aldeia por conta da falta de alunos, mesmo sendo visível grande demanda. Lá, eles trabalham o ensino fundamental e o médio, mas com disciplinas sobre seus povos.


Amanantô ressalta ser importante passar os ensinamentos e histórias dos anciões para as gerações futuras. Por isso, busca formar pesquisadores na escola da aldeia. “Eu tento incentivar o pessoal que terminou a graduação. É importante seguir com esse estudo, com esse pensamento de estar tentando levar a nossa história para frente, para mostrar para as pessoas que não a conhecem”, ressalta.


Foto: Leonardo Vieira

Arauní contando mais sobre a história do seu povo



Além de sua história e a de seu povo, Arauní nos contou sobre a luta contra o marco atemporal, que será julgado no Supremo Tribunal Federal (STF) e defende que os povos indígenas só poderiam reivindicar os territórios de onde partiram no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição brasileira. Para ele, esta é “uma lei que eles estão tentando fazer pra acabar com o que foi conquistado no ano de 1988”. O Cacique relata ainda que irá lutar pelos direitos de seu povo com outras aldeias, participando de caravanas para este julgamento do STF.



Publicado dia 25 de junho de 2022

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