A necessidade de cuidar do meio ambiente foi uma das tônicas da cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio. O trecho de um poema de Carlos Drummond de Andrade (A flor e a náusea), interpretado por duas grandes damas da dramaturgia brasileira e inglesa, as atrizes Fernanda Montenegro e Judi Dench, serviu de recado para os povos do mundo. Uma metáfora, um grito de alerta.
Em meio ao caos gerado pela degradação da natureza é preciso ter consciência dos gestos cotidianos de cuidado e respeito ao meio ambiente. Mesmo que pequenos e aparentemente sem importância como a flor feia, pequena, pálida e frágil que no poema brotou, improvavelmente, no meio do asfalto, eles podem nos ajudar a enxergar esperança em um futuro que, como já anuncia o presente, pode ser profundamente árido e nauseante.
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Gesner Duarte
Carlos Drummond de Andrade
(...) Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
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Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
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Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.