Pesquisadores da UFMT trabalham para preservar murici nativo da região do Médio Araguaia
Esta semana o Botoblog abordou a grande diversidade de árvores frutíferas presentes no campus da UFMT de Barra do Garças, um verdadeiro pomar que muitos estudantes, professores e técnicos nem sabem que existe (veja a matéria aqui). Uma das espécies mostradas é o murici. As mais de cem mudas plantadas aqui no campus fazem parte de um projeto de pesquisa que objetiva contribuir para a preservação dessa espécie, uma das mais características do Cerrado brasileiro, porém cada vez mais difícil de encontrar por conta da destruição desse bioma.
O projeto foi iniciado há 11 anos pelos professores da UFMT Devanir Murakami e Nair Bizão e atualmente faz parte da rede GENPAC- Genética geográfica e planejamento regional para conservação de recursos naturais no Cerrado, que integra 16 projetos de pesquisa envolvendo 70 pesquisadores de 8 universidades da Região Centro-Oeste.
O objetivo é aprender mais sobre o murici e contribuir para a preservação, melhoramento e, futuramente, para a exploração comercial sustentável da fruta por pequenos agricultores e mesmo para utilização da planta em projetos de reflorestamento. Os pesquisadores trabalham especificamente com a espécie Byrsonima cydoniifolia, encontrada aqui na região do Médio Araguaia.
Plantação experimental de murici no campus da UFMT de Barra do Garças. Fotos: Ester Moraes e Bruno César M. de Oliveira
Existe uma grande variedade de espécies de murici, presentes em diversas regiões da América Central e do Sul. No Brasil, ele aparece principalmente na Amazônia e no Cerrado. A fruta, da mesma família da acerola, é muito nutritiva, pois contém fibras e minerais, como potássio, cálcio, magnésio e zinco, carotenoides, polifenóis e vitamina C.
É possível elencar diversos benefícios relacionados ao consumo do murici, como o auxílio no controle da diabetes e do colesterol ruim (LDL). Ele também funciona como anti-inflamatório, antibacteriano e antifúngico. A madeira ainda tem grande potencial medicinal para o trato do sistema digestivo. Há ainda pesquisas sobre a ação de prevenção contra o câncer e a anemia.
Além do seu valor econômico e nutricional, o fruto também é vital para a sobrevivência da memória cultural dos povos do Cerrado, como patrimônio material e imaterial.
A versatilidade e a possibilidade de se transformar em diversas receitas garantem a fama do murici. Dele se aproveita desde a casca até a polpa: dá para fazer sucos, picolés, geleias, conservas e até bolos. Em algumas regiões do país as folhas do muricizeiro são utilizadas na medicina caseira, no combate à tosse e bronquite, e ainda como laxante. Por ser uma planta capaz de suportar as condições adversas do Cerrado ela também é usada para a alimentação do gado.
O professor Devanir Murakami conta que decidiu estudar o murici quando se efetivou na UFMT, em 2007. "No início, escolhi quatro locais próximos à Barra do Garças. Visitava toda a semana para acompanhar o comportamento da planta, ou seja, para saber quando soltava folhas novas, quando florescia, o que acontecia no período de seca, o que acontecia no período de chuvas, as pragas, as doenças, etc."
Já foram realizados trabalhos com germinação, produção de mudas, avaliação do seu desenvolvimento em condições de cultivo, análises genéticas e experimentação de métodos de enxertia e de enraizamento de estacas. Também foi implantado o banco de germoplasma na UFMT de Barra do Garças e na Universidade Federal de Goiás, em Goiânia, em uma parceria entre as duas universidades.
Devanir explica que o desdobramento do projeto é o trabalho de melhoramento genético da espécie. Até o término do projeto, em 2020, ele destaca que os principais objetivos são a obtenção de plantas melhoradas para fornecimento aos pequenos agricultores, desenvolvimento de produtos como óleo comestível, medicamentos, pigmentos, sucos, licores, refrigerante, etc. “Ainda teremos muito trabalho a fazer para poder conhecer um pouco mais sobre o murici. Há muito potencial nesta planta", conclui.
Para se deliciar
É notório o potencial deste fruto, principalmente na culinária. A joia do Cerrado, que dá seus frutos no outono e embeleza as paisagens com tons laranja fogo e amarelo ouro, se desdobra e se reinventa em múltiplas combinações, bem ao gosto do povo mato-grossense e goiano, que tem um apreço pelas bebidas e quitutes adocicados.
O Botoblog selecionou duas receitas bem fáceis, uma de licor e outra de bolo de murici, ótimas para recepcionar amigos e família com aquele gostinho bom do Cerrado. Confira:
Licor de Murici
Ingredientes:
1 litro de pinga
400g de açúcar
½ litro de polpa de murici
Modo de preparo:
Coloque ao fogo uma panela com todos os ingredientes. Feita a calda, misture a infusão, completando com água para obter 2 litros de licor.
Bolo de Murici
Ingredientes:
2 xícaras de chá de murici; 3 xícaras de café de água; 1 1/4 xícaras de chá de açúcar; 2 colheres de sopa cheias de manteiga; 2 Ovos; 2 1/3 xícaras de chá de farinha de trigo;
1/2 colher de chá de fermento químico;
Modo de Preparo:
1.Processar o murici com água, peneirar e reservar;
2.Em uma batedeira, bater o açúcar com a manteiga;
3.Adicionar as gemas, uma a uma, sem parar de bater;
4.Acrescentar a polpa de murici e misturar;
5.Misturar a farinha de trigo aos poucos e adicionar o fermento;
6.Separadamente, bater as claras em neve e acrescentá-las à massa, delicadamente;
7.Despejar em uma assadeira untada e enfarinhada e assar em forno preaquecido (180 °C) por 40 minutos.