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NÃO É APENAS UM RIO, É UM CICLO DE VIDA


Foto: Rabeche Alves



Foi no rio, foi na prainha, bem na margem d’água, lá no ribeiro, bem no meio, onde, nas nascentes, nasceu o Brasil. Dono da maior reserva de água doce mundial, abrigando uma rica biodiversidade, possui o maior potencial hídrico do planeta. São os rios que inspiram nomes, inspiram força, inspiram gente, estados e cidades em todo território nacional. São a principal fonte de água potável para as populações humanas.


Este 24 de novembro é uma data especial pois se comemora o “dia do rio”, para exaltar a importância dessas fontes naturais, além de ser usado principalmente como forma de conscientização para sua preservação.


Milhares de espécies do ecossistema, inclusive a espécie humana, consomem água de rios. Essa água, porém, precisa ter uma qualidade adequada para os diversos usos, pois deles provem grande parte da água consumida pela humanidade para beber, cozinhar, lavar, conservar alimentos, cultivar plantas, criar animais, navegação, dentre outros.

O Brasil é o país que possui uma das mais extensas e diversificadas redes fluviais do mundo, dividida em 12 regiões hidrográficas. Apesar disso, a distribuição das águas no território brasileiro é bastante desigual, sendo que 80% da água superficial encontra-se na Região Hidrográfica Amazônica. Para facilitar o gerenciamento do uso da água, o sistema hídrico brasileiro foi dividido, sendo que cada uma destas regiões compreende uma ou mais bacias hidrográficas.


Mas além de ser importante para o equilíbrio ecológico da fauna e flora, é através do rio que muitas famílias tiram seu sustento seja pela pesca ou passeios turísticos de barco e também possibilitam bons momentos de lazer para os moradores privilegiados que vivem cercados por esse bem precioso, como nos conta a estudante de jornalismo, da Universidade Federal de Mato Grosso – Campus Araguaia, Nathalia Gonçalves, que cresceu cercada pelo belo Rio Manso mais conhecido também como Rio das Mortes.


Foto: Nathalia Gonçalves


Ela lembra sobre os momentos prazerosos e especiais que fizeram parte de sua adolescência e que foram vivenciados junto ao rio. “Quando tinha 14 anos, foi a época que mais fui na praia (praia de água doce dos rios), quase todos os dias. Meus amigos e eu, íamos apenas para descansar e tomar banho de rio, sempre com o tererê também. Acho que uma das coisas que ir lá me proporcionava era isso, relacionamentos sabe? Fiz muitos amigos nesse tempo e fortifiquei muitas amizades”, ressalta Gonçalves.


Não muito diferente de Nathalia, a estudante de Ciências Biológicas da UFMT, Luana Costa, também conta suas experiências junto ao Rio das Mortes. “Eu sou muito apaixonada pela natureza desde sempre. Eu gosto muito de lugares com água e tudo mais e, particularmente, consigo encontrar no rio muita calmaria. É um lugar que consigo colocar minhas ideias no lugar, me traz paz”, destaca. Geralmente são os rios que abastecem as cidades as quais eles banham e abrigam ao seu redor uma vasta variedade de vegetação e espécies que dependem da água do rio para sua sobrevivência.


Foto: Luana Costa Ferreira


Sobre o futuro do rio, Nathalia destaca: “não acho que nos próximos anos, décadas, teremos rios como os que temos hoje... O ser humano está cada vez mais se afundando em seu próprio lixo, por isso que trabalhos de conscientização em prol do meio ambiente, ONG's e blogs como este (que tratem do meio ambiente) são necessários”. Luana também pontua: “Eu acredito que a principal medida seja a conscientização da sociedade, a partir do momento que a gente entende a importância de preservar tudo fica mais fácil, conseguir entender o porquê de não poluir, por que não desmatar áreas próximas a nascentes e tudo mais, torna mais fácil para colocar em prática”.


Nos últimos anos, os rios vêm sofrendo com a poluição, assoreamento e extinção de espécies. Por isso, conversamos com o professor Eduardo Vieira, do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso e Pesquisador do Núcleo de Estudo e Pesquisas Socioambientais (NEPSA-UFG/CNPq), que nos conta algumas curiosidades sobre os rios.

Para o professor, refletir sobre a importância desse recurso é a maior preocupação. Quando menos de 3% da água do planeta é doce, mas só 0.3% está realmente ao alcance da humanidade, a preservação desse recurso torna-se muito importante. A qualidade do rio como um todo acaba impactando na qualidade da água potável, uma vez que os recursos hídricos são enquadrados e encaminhados de acordo com sua própria qualidade para determinadas finalidades, como dessedentação animal, humana ou práticas esportivas. Por isso, todas as atividades desenvolvidas na bacia hidrográfica podem impactar na qualidade da água.


“Se eu tenho um rio que, por exemplo, o índice de turbidez é muito alto, mesmo após um processo de tratamento, isso gera alguns sólidos em suspensão nessa água. Ou um rio que muito da sua bacia hidrográfica é ocupada por lavouras e que, nessas lavouras, são utilizados muitos produtos químicos – esses produtos acabam chegando às águas, nos corpos de água, onde também vai interferir na qualidade. Dessa forma, a qualidade no curso de água está muito relacionada às atividades desenvolvidas ao redor. E, dependendo dessas atividades, a qualidade da água que possa vir a ser utilizada para uso humano sofre uma influência muito grande também”, explica Vieira.


O professor explica como as alterações no Código Florestal, aprovado em 2019, prejudicam as bacias hidrográficas brasileiras e, em que medida, as alterações feitas protegem a vegetação nativa, os cursos da água e outros recursos. Para ele, uma das principais alterações está relacionada ao conceito de área rural consolidada e suas mudanças no exercício de suas funções e obtenção legal. No entanto, é necessário lembrar que as áreas de preservação permanente (APP) enquadradas como de uso consolidado não podem ser consideradas como uma continuidade das áreas adjacentes de produção agrícola, pecuária ou florestal, requerendo um manejo e gestão diferenciados. São áreas sensíveis destinadas a cumprir funções ambientais especiais.


Foto: Rabeche Alves


Pensar na importância deste recurso é olhar para o cenário mundial, considerando que muitas populações percorrem quilômetros de distância para chegar até a água doce. Isso é um contrassenso, principalmente, quando lembramos que estamos “cercados” por água doce no Brasil. De fato, a causa disso é a má administração e distribuição do recurso, pois, apesar da parcela importante do consumo residencial, são os setores industrial e agropecuário os maiores consumidores de água.

O professor ressalta que uma previsão do estado dos rios para o futuro é imprevisível, mesmo que a quantidade de água praticamente não se altere, mas seu estado, localização e qualidade, sim. “Vamos ter cursos de água, vamos ter rios, vamos ter água em diferentes partes do planeta, mas a onde vai estar essa maior disponibilidade? Às vezes alguns locais sofrerão com escassez hídrica, outros locais nem tanto. Justamente por isso esse debate tem que ser bastante relativizado. A intensificação das atividades econômicas industriais e até mesmo crescimento populacional afeta de forma negativa esse importante elemento, comprometendo a qualidade da água”. lembra Vieira. E o dia do rio é um lembrete para que não seja esquecido sua importância na vida do planeta e para a humanidade.



Mayara Correia

Rabeche Alves

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